terça-feira, 20 de novembro de 2007

As palavras que te envio são interditas

As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.

Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.

E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.

Eugénio de Andrade

2 comentários:

Dri disse...

Eugénio de Andrade,enquanto o estudei nunca gostei, a excepçao de dois ou tres poemas. E este é um deles....
Parabens pela escolha!

bj

Anónimo disse...

"O que é o coração, o coração dos dezoito anos, o coração sem remorsos, o espírito anelante de glórias, ao cabo de dezoito meses de estagnação da vida?
O coração é a víscera, ferida de paralisia, a primeira que falece sufocada pela rebeliões da alma que se identifica à natureza, e a quer, e se devora na ânsia dela, e se estorce nas agonias da amputação, para os quais a saudade da ventura extinta é um cautério em brasa; e o amor, que leva ao abismo pelo caminho da sonhada felicidade, não é sequer um refrigério.
(...) Mas grinaldas de amor a escorrerem sangue dos espinhos, essas infiltram veneno corrosivo no pensamento, apagam no seio a faísca das nobres afoitezas, apoucam a idéia que abrangera mundos, e paralisam de mortal espasmo os estos do coração.
Assim te sentias tu, infeliz, quando dezoito meses de cárcere, com o patíbulo ou o degredo na linha do teu porvir, te haviam matado o melhor da alma. A ti mesmo perguntavas pelo teu passado, e o coração, se ousava responder, retraía-se, recriminado pelos ditames da razão."

In Amor de Perdição
Camilo Castelo Branco