Sou Daqui...Das Beiras

Tive uma infância longe daqui. Onde a minha rua cheirava a mato e chegava a casa suja de terra. Onde podia andar horas na rua sem medo. Brincava no quintal com as couves e os ovos das galinhas. Onde o inverno era rigoroso e o verão forte. Onde havia noites na casa dos 30 graus de madrugada. Onde as pessoas dormiam nas varandas com calor. Sou da terra que é comida pelos incendios, onde há noites escuras com fagulhas no ar, fagulhas que caminham kilometros pelos céus e lá ao fundo o imponente clarão! Tinha um grande quarto e hoje quando lá durmo penso, se aquele quarto falasse...Os pais sempre me deixaram escrever e pintar nas paredes dele, mas só dele! Lembro-me de escrever uma história à roda pelas quatro paredes, de fazer desenhos...esse quarto já está de outra cor, mas estamos tristes por termos eliminado esses momentos felizes e infantis.
Os meus animais de estimação eram coelhinhos, patinhos, pintainhos, cabritinhos, até perús tive e apanhavam valentes pielas no dia do seu massacre. Nessa altura, cão só tive um, o Nero, negro como breu...mas morreu prematuro...vicissitudes do campo.

Lá tomavamos banho no rio e nas barragens...lá eramos mais crianças...mais livres!

Na minha rua haviam três casas, eramos três meninas com idades demasiado próximas, as mais velhas das minhadas. Grandes festivais da canção fizemos!

...ainda hoje trago esse cheiro presente e recordo-o quando regresso...

...Não foi a cidade onde nasci, foi a cidade que me viu crescer, é tal mãe que nos cria...